PRINCÍPIOS
FILOSÓFICOS DO JUDÔ
A
aquisição das qualidades necessárias ao judô têm como alicerce os três
princípios filosóficos definidos por Jigoro kano que, como ditado por ele
mesmo evidenciam a principal diferença entre o JUDÔ KODOKAN e o antigo Jujitsu
: " o Judô pode ser resumido como a elevação de uma simples técnica a
um principio de viver" (Jitsu = técnica; Do = princípio). Esses princípios,
mesmo não sendo conscientemente esclarecidos e compreendidos, estão presentes
em todos os atos e atividades do praticante de judô. Por outro lado, quando o
praticante tiver fixado e tomar consciência dos princípios que norteiam o judô,
pode-se verificar que não são restritos ao Dojô, mas são igualmente válidos
em qualquer atividade da vida diária, quando se pretende atingir um determinado
objetivo.
Os
três princípios do judô são :
JU
= suavidade
SEIRYOKU-ZEN-YO
= máxima eficiência com mínimo esforço
JITA-KYOEI
= bem estar e benefícios mútuos
O
princípio da máxima eficiência é aplicado à elevação ou à perfeição do
espírito e do corpo na ciência do ataque e da defesa, exige primeiramente
ordem e harmonia de todos os membros de uma coletividade e isto pode ser
atingido com o auxílio e as concessões entre si para atingir a prosperidade e
os benefícios mútuos.
O
espírito final do judô, por conseguinte, é de incutir no íntimo do homem o
respeito pelos princípios da máxima eficiência, da prosperidade e benefícios
mútuos e da suavidade, para poder atingir, individualmente e coletivamente seus
estados mais elevados e ao mesmo tempo mais desenvolvidos na arte de ataque e
defesa.
O professor Kano afirma o seguinte: "Ainda que eu considere o Judô dualisticamente, a prosperidade e benefícios mútuos pode ser vista como sua finalidade última e a máxima eficiência como meio para atingir esse fim. Essas doutrinas são aplicáveis a todas as condutas do ser humano".
KODOKAN
JUDO JIGORO KANO
EDITADO
SOB A SUPERVISÃO DO COMITÊ EDITORIAL DA KODOKAN
ED.
KODANSHA INTERNATIONAL, TOKIO, 1994
(TRADUÇÃO REALIZADA POR MATEUS SUGIZAKI, 7º DAN)
JUJUTSU
TRANSFORMA-SE NO JUDÔ
Muitas
pessoas estão, sem dúvida, familiarizadas com os termos jujutsu e Judô, mas
quantos conseguem fazer distinção clara entre eles? Aqui, explicarei os dois
termos e por que o Judô veio ocupar o lugar do jujutsu.
As
artes marciais foram praticadas no Japão durante o período feudal: como a lança,
arco e flecha, esgrima e muitas outras. O jujutsu era uma delas, também,
chamado Taijutsu e Yawara. Era um sistema de ataques que envolvia projeções,
pancadas, cuteladas perfurantes e lacerantes, estrangulamentos, cotoveladas,
joelhadas e imobilizações do oponente, bem como a defesa contra esses ataques.
Embora
as técnicas do jujutsu fossem conhecidas desde os tempos mais primitivos, até
a última metade do século XVI, o jujutsu não era praticado nem ensinado
sistematicamente. Durante o período Edo (1603-1868) transformou-se numa arte
complexa, ensinada por mestres de numerosas escolas.
Na
minha juventude estudei o jujutsu com muitos mestres eminentes. O vasto
conhecimento deles, fruto de muitos anos de pesquisa diligente e de ricas experiências,
foi de grande valor para mim. Naquele tempo, cada indivíduo apresentava sua
arte como uma coleção de técnicas e ninguém conseguia perceber o princípio
diretivo fundamental que estava por trás do jujutsu. Quando eu encontrava
diferenças no ensinamento das técnicas, freqüentemente, me via perdido e sem
saber o que era correto.
Isso
levou-me analisar um princípio básico no jujutsu, aplicado quando alguém
ataca um oponente, bem como, quando ele o projeta.
Após
fazer um completo estudo do assunto, pude distinguir esse princípio, que
entendi como sendo universal: fazer o uso mais eficiente da energia física e
mental. Com esse princípio no pensamento, eu fiz revisão de todos os métodos
de ataque e defesa que aprendi, retendo somente aqueles que estavam de acordo
com o princípio. Os que não estavam de acordo eu rejeitei e, em seu lugar,
substitui por outras técnicas em que o princípio era corretamente aplicado. O
corpo de técnicas resultantes eu chamei de Judô que é aquele ensinado na
Kodokan para diferenciar do seu antecessor.
As
palavras jujutsu e Judô são escritas com dois caracteres chineses, cada uma. O
ju em ambas é o mesmo e significa "suavidade" ou "via de
ceder". O significado de jutsu é "arte, prática". Do significa
"princípio ou caminho", entendendo o conceito de caminho como sendo a
própria vida. Jujutsu pode ser traduzido como "arte suave" e com a
implicação de ter significado final, unicamente, de vencer o oponente. Judô é
interpretado como o "caminho da suavidade". Como poderemos ver no próximo
capítulo, Judô é mais que uma arte de ataque e defesa, é um estilo de vida.
Kodokan significa, literalmente, "escola para estudar o caminho".
Para
explicar o significado de "suavidade" ou "via de ceder",
vamos dizer que um indivíduo se encontra à minha frente, cuja força é
mensurada em dez unidades e que a minha força seja de sete unidades. Se ele me
empurrar com toda sua força, seguramente eu me deslocarei para trás ou serei
derrubado, mesmo que eu resista com toda minha potência, isto é, opondo força
contra força. Mas, se ao invés de me opor a ele, eu me afastar na direção do
empurrão, desviando meu corpo e mantendo o equilíbrio, meu oponente perderá
seu equilíbrio. Enfraquecido por sua posição instável, ele será incapaz de
usar toda sua força que estará, então, diminuída para três unidades. Tenho
mantido o equilíbrio, minha força permaneceu como sete unidades. Nessa situação,
estou mais forte que meu oponente, assim poderei derrotá-lo usando somente
metade de minha força e guardando a metade disponível para outro propósito.
Mesmo quando for mais forte que seu oponente, primeiro, é melhor se afastar.
Assim procedendo, pode-se conservar sua energia enquanto esgota a de seu
oponente.
Isso
é apenas um exemplo de como derrotar um oponente pela via de ceder. Devido ao
fato de muitas técnicas fazerem uso deste princípio que a arte foi denominada
jujutsu. Vamos ver outros exemplos dos feitos que podem ser acompanhados com o
jujutsu.
Supondo
que um indivíduo se encontre à minha frente, tal como um tronco apoiado numa
extremidade. Ele pode ser empurrado para frente ou para trás, a fim de ser
desequilibrado, com um único dedo. No momento que ele inclinar para frente, se
eu colocar meu braço em sua espalda e, rapidamente, deslocar meu quadril a sua
frente, fazendo com que se torne um fulcro (ponto de apoio da alavanca). Para
projetar o indivíduo ao solo, tudo que preciso fazer é girar meu quadril
ligeiramente e puxar seu braço ou sua manga, mesmo que ele seja muito mais
pesado.
Numa
outra situação vamos dizer que eu tento produzir o desequilíbrio de um indivíduo
para frente mas ele dá um passo adiante, com um dos pés. Ainda, assim, posso
projetá-lo, facilmente, apenas pressionando a planta de meu pé logo abaixo do
tendão de Aquiles, de sua perna avançada, uma fração de segundo antes que
ele transfira todo peso sobre esse pé. Este é um bom exemplo do eficiente uso
da energia, pois, apenas com um leve esforço, posso derrotar um oponente de força
considerável.
O
que fazer quando um indivíduo investe sobre mim e me empurra? Ao ser empurrado,
se eu segurar seus braços ou seu colarinho com ambas as mãos, colocar a planta
de um do pés contra a porção inferior do abdômen e deitar estendendo minha
perna, posso fazê-lo dar rodopiar por cima de minha cabeça.
Por
outro lado, supondo que meu oponente se incline para frente e me empurre com a mão,
se eu ceder e agarrar na parte superior da manga de seu braço estendido, isso o
fará desequilibrar. Se eu girar o corpo, rapidamente, para que a minha costa
fique em contato com seu peito, e segurando com minha mão livre sobre seu ombro
e me curvar, ele será arremessado sobre minha cabeça e cairá pranchado sobre
sua espalda.
Como
mostram esses exemplos, para arremessar um oponente, o uso do princípio de
alavanca é, algumas vezes, mais importante do que simplesmente ceder. Além
disso, o Jujutsu, também inclui outras formas de ataque direto, tal como
pancada, ponta pé e estrangulamento e, nesse aspecto, a "arte de
ceder" não traduz seu verdadeiro significado. Se aceitarmos o Jujutsu como
a arte ou prática para a via de ceder, então devemos aceitar o Judô como
sendo o caminho ou o princípio para chegarmos a essa meta através da
verdadeira compreensão do uso mais eficiente da energia física e mental.
Em
1882, eu fundei a Kodokan para ensinar Judô e dentro de poucos anos o número de
estudantes cresceu rapidamente. Eles vieram de toda parte do Japão e muitos
tiveram que deixar os mestres do Jujutsu par treinar comigo. Consequentemente o Judô
deslocou o Jujutsu e ninguém, em qualquer época, citou o Jujutsu como
sendo uma arte contemporânea no Japão, embora a palavra tenha sobrevivido no
estrangeiro.
PRINCÍPIOS
E PROPÓSITOS DO JUDÔ KODOKAN
JUDÔ
COMO EDUCAÇÃO FÍSICA
Incentivado
pelo sucesso de aplicar o princípio da máxima eficiência às técnicas de
ataque e defesa, então questionei se o mesmo princípio não poderia ser
empregado para melhorar a saúde, ou seja, ser aplicado à educação física.
Muitas
opiniões foram formuladas para responder a questão: qual é o propósito da
educação física? Após dispensar a esse assunto uma quantidade infindável de
ponderações e fazer inúmeros intercâmbios com outras pessoas instruídas e
cultas, conclui que seu propósito é tornar o corpo forte e saudável, ao mesmo
tempo em que se constrói o caráter da disciplina mental e moral. Tendo
esclarecido o propósito da educação física, vamos ver como os métodos
comuns desse processo obedecem os princípios da máxima eficiência.
As
vias pelas quais as pessoas treinam seus corpos podem ser muitas e das mais
variadas formas mas, invariavelmente, elas caem em duas categorias gerais:
esportes e ginástica. É difícil generalizar sobre esportes, desde que existem
muitas modalidades diferentes e elas compartilham de uma importante característica
: são de natureza competitiva. O objetivo imaginado para eles não tem sido de
favorecer o desenvolvimento físico balanceado ou garantia de saúde.
Inevitavelmente, alguns músculos são, consistentemente, forçados ao trabalho
enquanto outros são negligenciados. No processo, algumas vezes são produzidos
danos em várias partes do corpo. Muitos esportes não podem ser totalmente
considerados como educação física, de fato, deveriam ser descartados ou
melhorados, porque falham no uso mais eficiente da energia física e mental e
impedem o progresso para atingir o objetivo de promover saúde, força e benefícios.
Em
contraste, a ginástica deve ser prontamente considerada como educação física.
A sua prática não é lesiva ao corpo, geralmente, é benéfica à saúde e
promove o desenvolvimento equilibrado do corpo. Contudo, a ginástica, tal como
praticada hoje, apresenta falhas em dois aspectos : interesse e utilidade.
Existem
muitas formas mais atraentes pelas quais a ginástica pode ser praticada. Dentre
elas, uma forma que eu defendo é constituída do grupo de exercícios que tenho
executado experimentalmente. Cada combinação de movimentos dos membros, pescoço
e corpo é baseada no princípio da máxima eficiência e representa uma idéia,
compondo uma série de exercícios que promove, efetivamente, o desenvolvimento
físico e moral harmonioso. Um outro conjunto de exercícios que eu criei, o
SEIRYOKU-ZEN-YO KOKUMIN TAIIKU (Educação Física Nacional de Máxima Eficiência)
é praticado na Kodokan. Seus movimentos não somente levam ao desenvolvimento físico
equilibrado mas, também, proporcionam o treinamento básico de ataque e defesa.
Para
a educação física ser, verdadeiramente, efetiva ela deve estar baseada no
princípio do uso eficiente da energia física e mental. Estou convencido de que
os avanços futuros na educação física estarão em conformidade com esse
princípio.
DOIS
MÉTODOS DE TREINAMENTO
Até
aqui tenho abordado os dois principais aspectos do treinamento do judô:
desenvolvimento do corpo e treinamento das formas de ataque e defesa. Os métodos
de treinamento fundamentais para ambos os propósitos são: KATA E RANDORI.
KATA
significa "forma" : é um sistema de movimentos pré-arranjados que
ensinam os fundamentos de ataque e defesa. Em adição às projeções e retenções
(também praticadas no Randori),inclui pancadas, chutes, cuteladas, golpes
lacerantes e inúmeras outras técnicas. Isso só utilizado no Kata porque esse
treinamento se trata de praticar movimentos pré-arranjados e cada um dos
parceiros sabe o que o outro irá fazer, antecipadamente.
RANDORI
significa "prática livre": os praticantes, aos pares disputam um
contra o outro como se estivessem em competição. Eles podem projetar,
imobilizar, estrangular e aplicar chaves de braço, mas não podem dar pancadas,
chutes e empregar outras técnicas apropriadas somente nos combates reais. As
principais condições no randori são que os participantes tomem cuidado de não
causar lesões um ao outro e que sigam a etiqueta do Judô, que é obrigatória
para quem deseja obter o máximo benefício de randori.
O
randori pode ser praticado tanto como treinamento dos métodos de ataque e
defesa ou como educação física. Em ambos os caso, todos os movimentos são
feitos de conformidade com o princípio da eficiência máxima. Se o objetivo é
treinamento em ataque e defesa, a concentração na execução adequada das técnicas
é suficiente. Mas além disso, randori é ideal para cultura física, desde que
envolve todas as partes do corpo e tal como a ginástica, todos os seus
movimentos devem ser intencionais e executados com esse espírito. O objetivo
desse treinamento físico sistemático é aperfeiçoar o controle sobre a mente
e o corpo e prepara o indivíduo para enfrentar qualquer emergência a um
ataque, acidental ou proposital.
TREINANDO
A MENTE
Ambos,
Kata e randori são formas de treinamento mental mas, dentre, eles, o randori é
mais eficiente.
No
randori , o indivíduo deve explorar as fraquezas do oponente e estar pronto
para o ataque, com todos os recursos disponíveis que o momento e a oportunidade
se apresentam, sem violar as regras do Judô. Praticando o randori , o estudante
tende a tornar-se mais sério, determinado, sincero, atento, cauteloso e
deliberado na ação e, ao mesmo tempo, ele ou ela aprende a valorizar e tomar
decisões rápidas e agir prontamente, quer para atacar ou defender. Não há
lugar no randori para indecisões.
No
randori o indivíduo nunca pode estar seguro de qual a próxima técnica que o
oponente vai empregar, por isso deve estar constantemente em vigília. O estado
de alerta torna-se sua segunda natureza. O indivíduo adquire estabilidade
emocional pela autoconfiança adquirida do conhecimento de que ele está
preparado para qualquer eventualidade. O poder de atenção, observação e
imaginação, bem como, de raciocínio e julgamento são, naturalmente,
intensificados pelo treinamento e estes atributos são úteis tanto na vida diária
como no dojo.
Praticar
o randori é conhecer as complexas relações físico-mental existentes entre os
companheiros. Centenas de valiosas lições podem ser extraídas deste estudo.
No randori aprendemos a empregar o princípio da máxima eficiência, mesmo
quando podemos, facilmente, sobrepor um oponente. Naturalmente, é muito mais
precioso vencer um oponente com a técnica adequada do que com a força bruta.
Essa lição é igualmente aplicável na vida diária: o praticante deve
compreender que a persuasão suportada por argumentos lógicos (bom senso) é,
no final das contas, mais efetivo do que o uso da força.
Uma
outra consideração sobre o randori é de aprender a aplicar a quantidade certa
de força, nem muito nem pouco. Nós temos conhecimentos de pessoas que falharam
nos seus objetivos porque não mediram apropriadamente a quantidade de esforço
requerido. Num extremo, eles ficam aquém do alvo e, no outro não sabem quando
parar.
Ocasionalmente,
enfrentamos um oponente que é obsessivo no seu desejo de vencer. Para tanto
devemos ser treinados a não resistir diretamente pelo uso força mas para
disputar com o oponente, até que sua agressividade e força fiquem exauridos. Aí,
então devemos aproveitar a oportunidade para atacar. Essa lição pode ser
empregada, sempre que encontramos pessoas agressivas, em nossa vida diária e
desde que nenhum argumento surtirá efeito contra elas, tudo que podemos fazer
é esperar que se acalmem.
Há
diversos exemplos de contribuições que o randori pode dar para o treinamento
intelectual da mente dos jovens.
TREINAMENTO
ÉTICO
Vamos
ver agora as vias pelas quais podemos obter uma compreensão do princípio da máxima
eficiência que constituí o treinamento ético.
Há
pessoas que são de natureza facilmente excitável e se tornam agressivas pela
mais trivial das razões. O Judô pode levar essas pessoas aprender a se
controlar, através do treinamento e, rapidamente, elas entendem que a
agressividade é um desperdício de energia que causa efeitos negativos em si próprio
e nos outros.
O
treinamento de Judô é, também, extremamente benéfico para aqueles com ausência
de confiança em si próprio, devido a falhas no passado. O Judô nos ensina a
escolher o melhor curso possível de ação, qualquer que sejam as
circunstancias individuais e ajuda-nos a compreender que a ansiedade é uma
perda de energia. Paradoxalmente, um indivíduo que falha e outro que atinge o máximo
do sucesso estão exatamente na mesma posição, pois cada um deve decidir o que
fará a seguir: escolher o caminho que o levará ao próximo passo. Numa
primeira instância, os ensinamentos de Judô dão a cada um o mesmo potencial de
sucesso, procurando conduzir o indivíduo e sair da letargia e desapontamento,
para estabelecer uma atividade vigorosa.
Outros
tipos que podem se beneficiar da prática do Judô são os cronicamente
descontentes que, prontamente, culpam outras pessoas por aquilo que é realmente
devido a sua própria falha. Essas pessoas devem entender que a constituição
negativa de sua mente vai contra o princípio da máxima eficiência e que viver
em conformidade com esse princípio é a chave para atingir um estado mental de
visão avançada.
ESTÉTICA
A
prática do Judô traz muita satisfações: o prazer de sentir o exercício
conduzido aos músculos e nervos, a satisfação de dominar os movimentos e a
alegria de vencer sua competição.
Não
menos que isso, tem-se a beleza e o encanto de executar técnicas elegantes e a
opção de obter outras performances significativas. Essa é a essência do lado
estético do Judô.
JUDÔ
ALÉM DO DOJO
No
Judô temos como análise racional, a concepção de que as lições apreendidas
nos confrontos encontrarão aplicação não somente nos treinamentos futuros
mas, também, para compreensão do mundo, em sentido amplo. Aqui eu gostaria de
apontar cinco princípios básicos e mostrar, sucintamente como eles atuam no
domínio social.
Primeiro,
o conceito de que o indivíduo deve dar toda atenção ao relacionamento entre
ele e seu oponente, antes de realizar um ataque, deve observar o peso, a
constituição física, os pontos fortes, o temperamento, etc.. Ele pode estar,
todavia, consciente de suas próprias forças e fraquezas e sua visão pode
avaliar criteriosamente, o ambiente. Quando o combate for promovido ao ar livre,
ele deve inspecionar a área coisas, tais como pedras, desníveis e muros. No
dojo , ele observar as paredes, as pessoas e outras obstruções potenciais. Se
observar, cuidadosamente, todas essas coisas, então a forma correta para
derrotar o oponente surgirá naturalmente.
O
segundo ponto tem a ver com a tomada de iniciativa.
Praticantes
de jogos de tabuleiros como xadrez e go estão familiarizados com a estratégia
de promover um movimento em que se deseja conduzir o outro jogador numa certa
direção. Esse conceito é claramente aplicável tanto no Judô como em nossa
via diária.
Sucintamente,
o terceiro ponto é refletir, integralmente, para agir com determinação. A
primeira frase está estreitamente relacionada com o ponto acima mencionado,
isto é, um indivíduo deve avaliar meticulosamente seu adversário antes de
executar uma técnica. Isto feito, o conselho dado na segunda frase deve ser
seguido, automaticamente, Agir com determinação significa executar sem hesitação
e sem segundas intenções.
Tendo
mostrado como proceder, eu gostaria agora de aconselhar quando deve parar. Isso
pode ser estabelecido muito simplesmente, pois, quando um ponto predeterminado
for atingido, é tempo de cessar a aplicação de técnicas ou qualquer que seja
a ação.
O
quinto e último ponto evoca toda a essência do Judô e está contido no
seguinte depoimento: andar por um caminho simples, sem se tornar arrogante com a
vitória nem humilhado com a derrota; sem esquecer a cautela quando tudo é silêncio
ou tornar-se amedrontado quando ameaçado pelo perigo. Está implícito aqui a
censura de que, se nos deixarmos levar pelo sucesso da vitória,
inevitavelmente, a derrota virá em seguida.
Também,
significa que o indivíduo deve, sempre, estar preparado para o combate, mesmo
no momento seguinte após obter uma vitória.
O
praticante de Judô deve manter esses cinco princípios, permanentemente, na sua
mente. Aplicando-os no local de trabalho, na escola, no mundo político ou
qualquer outra área da sociedade, ele verificará que os resultados serão
sempre benéficos.
Repetindo,
o Judô é uma disciplina física e mental cujas lições são, prontamente,
aplicáveis às condutas de nossos compromissos diários. O princípio
fundamental do Judô é aquele que governa todas as técnicas de ataque e defesa
e, qualquer que seja o objetivo, poderá ser atingido com melhor resultado pelo
uso da máxima eficiência do corpo e da mente para aquele propósito. Esse
mesmo princípio aplicado as nossas atividades cotidianas leva a uma vida
racional mais elevada.
O
treinamento das técnicas de Judô não é a única via para compreensão desse
princípio universal, mas é a forma como eu cheguei ao entendimento dele e pela
qual tento iluminar os meus discípulos.
O
principio da máxima eficiência, ao ser aplicado na arte de ataque e defesa ou
para aprimorar e aperfeiçoar a vida, acima de tudo, demanda ordem e harmonia
entre as pessoas. Isso só se consegue através do auxílio e da concessão mútua,
tendo como resultado o mútuo bem-estar e benefícios comuns. O propósito final
da prática de Judô é para introduzir o respeito aos princípios da máxima
eficiência e do bem-estar e benefícios mútuos. Através do Judô as pessoas
podem, individualmente ou coletivamente, atingir seu mais elevado estado
espiritual e, ao mesmo tempo, desenvolver fisicamente seus corpos e aprender a
arte de ataque e defesa.
PONTOS
BÁSICOS DO TREINAMENTO
O
DOJO
O
Judô deve ser praticado num local especialmente projeta, conhecido como dojo. A
área de pratica deve ser destituída de quinas cortantes e obstruções
potencialmente perigosas, tais como pilares e ter as paredes, geralmente,
forradas. O piso do local deve ser revestido com esteira, de tamanho e forma idênticas
aos tatamis usado nas casas residenciais, para absorver o impacto das quedas.
Muito cuidado deve ser tomado para que as esteiras estejam niveladas e
ajustadas, sem espaço entre elas, para evitar lesões, especialmente nos pés.
As esteiras rasgadas e danificadas devem ser, rapidamente reparadas ou substituídas.
Quando alguém visita um dojo, pela primeira vez, deve-se fazê-lo admirar com a
manutenção da limpeza e impressionar com a atmosfera solene. Devemos lembrar
que a palavra dojo deriva de um termo budista, que se refere ao " lugar
iluminado".
Tal
como um mosteiro, o dojo é um lugar sagrado onde as pessoas vão aperfeiçoar o
corpo e a mente.
A
prática de Randori e Kata deve ser feita no dojo assim como a realização dos
combates e das disputas.
O
JUDOGUI
O
conjunto de jaqueta, calça e faixa usadas na prática do Judô são chamados de
judogui. A jaqueta e a calça são brancas e a faixa varia de cor conforme a
graduação do usuário.
Iniciantes,
sem qualquer graduação, usam faixa branca.
Quando
atingir a graduação de kiyu usam faixas coloridas, sendo o mais avançado
nessa classe o primeiro kyu, que usa a faixa marrom. Aqueles que são graduados
de primeiro a quinto dan usam faixa preta. A partir do sexto dan a faixa é do
tipo coral, com bandas branca e vermelha alternadas. Nono e décimo dan usam
faixa vermelha. Os possuidores de sexto dan e acima podem, contudo, usar faixa
preta, se preferir. As faixas para mulheres tem uma lista branca na porção
mediana do sentido longitudinal.
ETIQUETA
NO DOJO
Antes
e após praticar o Judô ou engajar-se num combate, os oponentes se reverenciam
entre si. A saudação é uma expressão de gratidão e respeito. De fato,
pode-se agradecer seu oponente por lhe dar a oportunidade de melhorar sua técnica.
A saudação é executada tanto na posição sentado (za-rei) como na posição
ereta (ritsu-rei).
Para
realizar a saudação na posição sentado, os contendores ficam distantes um do
outro, a cerca de 1,5 metro, ajoelhados com o dorso do pé faceando o tatami. Os
joelhos devem ficar ligeiramente afastados, quadril descansado sobre o
calcanhar, mãos sobre a coxa. As mãos se deslocam sobre a esteira, de 10 a 12
centímetros a frente dos joelhos, com as pontas dos dedos voltados levemente
para o interior. Curva-se a partir da cintura com a cabeça e pescoço formando
uma linha reta em relação a costa.
Para
a saudação na posição ereta, os contendores devem se colocar, a cerca, de
dois metros distantes um do outro. Então eles se flexionam para a frente, a
partir da cintura deixando as mãos deslizar da lateral para a frente de suas
pernas, até que seu corpo forme um ângulo de aproximadamente, 30 graus.
A
saudação sentada é mais formal, sempre executada antes e após a prática de
Kata. Também deve ser dirigida aos professores e instrutores quando entrar e
sair do dojo. Antes e após o randori deve-se fazer a saudação na posição
ereta.
Dependendo
das circunstâncias, os contendores podem saudar de distâncias maiores, mas
devem sempre mostrar sinceridade.
Por
outro lado, é esperado dos praticantes de Judô exibir decoro apropriado no dojo.
O dojo não é local para conversa leviana ou comportamento frívolo. Os
praticantes podem não estar praticando da prática ou de um combate, mas,
enquanto descansam, eles devem observar as outras práticas, pois fazendo
aprendem alguma coisa. Comer, beber e fumar não é tolerado no dojo, pois os
praticantes são compelidos a mantê-lo asseado e limpo.
A
higiene pessoal, também, é importante. Os praticantes devem estar limpos e
manter suas unhas das mãos e dos pés aparadas para evitar que provoque
ferimentos nos outros. O judogui deve ser lavado regularmente e qualquer rasura
remendar imediatamente. Para atingir o melhor rendimento do treinamento deve-se
ter , sempre, moderação na alimentação, bebida e sono.
A
IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA REGULAR
Os
praticantes, algumas vezes, se enganam em seus treinamentos, tanto praticando
demais como de menos. A prática insuficiente é o problema mais comum.
O real valor do Judô só aparece como resultado da prática regular. Para obter o máximo beneficio físico, mental e espiritual do Judô, deve-se praticar todos os dias sem falhar. Quando for impossível treinar no dojo, deve-se pelo menos, executar o Seyrioku Zen’yo Taiiku – no Kata.
UMA
PALAVRA DE PRUDÊNCIA
Nos
estágios iniciais do treinamento de Judô, os praticantes especialmente os
jovens, algumas vezes sentem-se provocados a experimentar técnicas aprendidas
recentemente em pessoas que não estão preparadas. Tal comportamento é
irresponsável e altamente perigoso. Nunca devemos abusar das técnicas do Judô,
porque podem resultar em lesões sérias ou mesmo na morte. Não é necessário
dizer que isso vai contra o espírito do Judô.
A
única justificativa que se tem para aplicar as técnicas de Judô fora do dojo
é quando ocorre perigo físico imediato.
Lançando
mão de comportamento inadequado, o indivíduo coloca a si próprio em grave
perigo. Com certeza, sempre encontrará indivíduos mais fortes e não se sabe o
que poderá acontecer. Quando se está desprevenido ou quando não está em vigília,
ninguém tem chance de se defender, mesmo contra um atacante mais fraco. Se ele
não tiver tentado experimentar sobre outros, o praticante, seguramente, estará
numa condição de repreender qualquer pessoa que hesite alguma coisa consigo.
Fora do treinamento, é proibido experimentar técnicas que tenha aprendido.
Sobre
a insensatez do abuso pelos conhecimentos adquiridos através do treinamento do Judô, tem-se a seguinte história que foi transmitida para nós, do passado.
Um
certo estudante, ávido por testar suas técnicas, todas as noites ia um ponto
isolado de uma estrada e ficava esperando por algum transeunte ocasional. Quando
alguém aparecia, ele pulava em cima e aplicava uma de suas técnicas de projeção.
Consequentemente,
seu professor recebeu informações da ação desse indevido. Disfarçando-se,
uma noite o professor foi ao local e o estudante, não tendo reconhecido o
professor, saiu precipitadamente e atacou-o como de costume. O professor
deixou-se arremessar, então lentamente se levantou e disse ao estudante para
examinar sua lateral. Descobrindo quem era o homem, o estudante rapidamente
baixou o olhar. Havia no seu lado direito uma risca de graxa que seu professor
aplicou enquanto era arremessado, indicando que poderia facilmente tê-lo matado
com um golpe de atemi. Humilhado por sua experiência, o estudante nunca mais e
aventurou para testar suas técnicas em transeuntes inocentes.
MÁXIMAS
DE JIGORO KANO
“Vencer
o hábito de usar a força contra a força é uma das coisas mais difíceis do
treinamento de Judô. Caso não se consiga isto, não se pode esperar
progresso.”
“A
derrota na competição e treinamento não deve ser uma fonte de desânimo ou de
desespero, é sinal da necessidade de uma prática maior e de esforço
redobrado.”
“Em
qualquer espécie de treinamento, o ponto mais importante é liberar-se dos maus
hábitos.”
“À
medida que se progride no estudo do Judô, o sentido de
confiança em si mesmo, base do equilíbrio mental, se desenvolve.”
“A
habilidade é função de um ato inconsciente automático, o controle consciente
de todos os fatores é impossível, pois uma entrada só é possível num espaço
de tempo igual ao de um raio.”
“Tender
à perfeição é o princípio do treinamento do Judô.”
“A
maneira de treinar depende de uma ação consciente, mas o objetivo do
treinamento é conseguir o domínio da técnica, o que é inconsciente.”
“Sem
uma clara compreensão do sentido do movimento não se pode esperar progressos
reais.”
“Quando
se percebe a potência do Judô compreende-se que não se pode usá-lo
levianamente, pois ele pode ser tão perigoso quanto uma espada desembainhada”
“O
melhor uso que se pode fazer de uma espada é não utilizá-la, o pior é
servir-se dela.”
“O
Judô pode ser considerado como uma arte, ou uma filosofia do equilíbrio, bem
como um meio para cultivar o sentido e o estado de equilíbrio.”
“Não
se envergonhe por causa de um erro, você estaria cometendo uma falta.”
ESPÍRITO
DO JUDÔ – JIGORO KANO
“Conhecer-se
é dominar-se, e dominar-se é triunfar.”
“Quem
teme perder já está vencido.”
“Somente
se aproxima da perfeição quem a procura com constância, sabedoria e,
sobretudo, humildade.”
“Quando
verificares com tristeza que nada sabes, terás feito teu primeiro progresso no
aprendizado.”
“Nunca
te orgulhes de haver vencido um adversário. Ao que venceste hoje, poderá
derrotar-te amanhã. A única vitória que perdura é a que se conquista sobre a
própria ignorância.”
“O
judoca não se aperfeiçoa para lutar, luta para se aperfeiçoar.”
“Saber
cada dia um pouco mais, utilizando o saber para o bem, esse é o caminho do
verdadeiro judoca.”
“Praticar
o Judô é educar a mente a pensar com velocidade e exatidão, bem como o corpo
a obedecer com presteza. O corpo é uma arma cuja eficácia depende da precisão
com que se usa a inteligência.”
“Nas
águas do rio da vida, chega mais longe quem nada como deve, quando deve e até
onde deve.”
“Ceder
para vencer.”
“Judoca
é o que possui inteligência para compreender o que lhe ensinam, paciência
para ensinar o que aprendeu aos seus semelhantes e fé para acreditar naquilo
que ainda não compreende.”
“A
fraqueza é susceptível, a ignorância é rancorosa, o saber é a força da
compreensão, aquele que compreende perdoa.”